domingo, 27 de julho de 2014

Cama de gato

      Um domingo chuvoso e sem luz. E um rolo de barbante descoberto. Resultado: cama de gato. Normal, vocês me diriam. Brincadeira antiga, desafiadora, tradicional. Mas não é simples assim quando se trata de Caio...

      Caio encontrou não-sei-onde um rolo de barbante e veio me pedir para brincar com ele. Claro que eu já sabia que, no mínimo, Caio ia embolar o barbante todo, mas deixei, em nome de proporcionar a ele novos experimentos.

      Fiquei na cozinha preparando um bolo e ouvia Caio exultante, brincando com o barbante. Ele vinha de tempos em tempos me contar:
      - Mãe, estou fazendo cada armadilha!!! Meus irmãos não vão acreditar!
      De vez em quando chamava um deles para ver seus progressos na construção da brincadeira. Eu só ouvindo e imaginando:

      - Aqui tem de pular. Agora se arrasta. Cuidado pra não puxar! Vem por esse lado!

      Eu me deliciava com as gargalhadas e gritos dele, mas ao mesmo tempo me preocupava com o momento que vou chamar de A revelação.

      Quando finalmente pude deixar a cozinha para ver do que se tratava, quase caí pra trás! Caio construiu uma cama de gato gigante, um labirinto de Creta feito de barbante, uma teia desconexa e confusa, que abrangia a sala, o corredor, o quarto do Caio e o meu quarto!

      Minha primeira reação foi lembrar de fotografar. Mas, lerda que sou, só aos poucos fui me dando conta dos pontos de apoio do barbante, locais onde a teia se sustentava para dar início a uma nova fiação. O primeiro que visualizei foi minha compoteira de vidro em cima do rack da sala, onde o barbante fazia algumas voltas em sua base. Gritei:
      - Caio, meu pote de vidro! Você tá maluco! Se puxar um dos barbantes, ele vai cair no chão e se quebrar! Peraí!
      E peguei um potão de Toddy para colocar no lugar da compoteira sem estragar a brincadeira de imitar aranha. Até esse momento eu não tinha ainda saído da porta da cozinha...

      Corajosamente fui vencendo as dificuldades que se impunham pelo caminho e segui pelo corredor. A intenção era pegar a máquina no quarto para fazer o registro para o blog quando Caio me gritou de volta à sala: um vaso com meus bambus da china caiu e (não quebrou, mas) derramou. Aí já comecei a ficar desesperada:
      - Caio! Pega um pano depressa! - meu medo era de a água ter respingado no aparelho da Net. Não respingou, mas meu nível de tolerância estava bastante alterado.

      Logo depois, ao chegar ao meu quarto, quase caí pra trás pela segunda vez: meus objetos de dentro do armário estavam todos bagunçados, e deles partiam vários vértices de novas encruzilhadas. Foi a gota d'água.

      Caio, já sabendo que a brincadeira terminara, tentava negociar o desfecho.
      - Mas, mãe, foi tão legal! Você vai me colocar de castigo?

      Não coloquei. Ajudei a enrolar o barbante e o guardei para a próxima tarde chuvosa e sem luz.

2 comentários:

Graça Antunes disse...

Em tempos de internet, brincadeiras assim são fantásticas, desenvolvem tanta coisa... E o Caio é muito criativo essa brincadeira é perfeita pra ele!

Karla disse...

Acho que você não entendeu não Graça... a "cama de gato" que Caio brinca é "tamanho família", ou seja, barbante pela casa toda, entrelaçada e amarrada nos "dedos" dos móveis, portas e objetos. Pena que no desespero não deu pra fotografar!!!