quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Letramento

          Quando eu tinha  5 para 6 anos, comecei a me interessar pelas letras coloridas e atraentes dos outdoors que enfeitavam o alto dos edifícios do Aterro do Flamengo, um trajeto que fazíamos sempre indo para a casa dos meus tios na Zona Sul do Rio. Havia um especial que me chamava a atenção: o anúncio da Mesbla, em letras vermelhas e enigmáticas para mim.

Foto "colhida" no google

          Comecei perguntando o que estava escrito, e me era respondido com a mesma paciência que hoje tenho com o meu filho. Depois, fui decorando as letras e aí começou minha alfabetização (letramento é nome moderno), pois eu rapidamente fazia as associações de sons, grafia e sentidos. Quando entrei para o C.A. (Classe de Alfabetização), com 7 anos incompletos , sabia ler e escrever algumas palavras, mas não o meu nome (!), que aprendi depois. Era o método "da abelhinha", ensinado pela querida tia Vera, nos idos de... hum... 1975.

          Hoje está tudo diferente! Agora há a pré-escola, tão fundamental, sabemos. E as crianças já escrevem seus nomes com 4, às vezes 3 anos! O letramento começa ainda na barriga da mamãe! Todo ambiente é ou deve ser  propício ao letramento. 

          Mas o Caio... ele é um menino que não pára, cheguei a cogitar que fosse hiperativo. Não se concentra, a não ser que queira. Talvez por conta disso não desenvolveu, ao menos aparentemente,  como os outros meninos de sua idade, as habilidades de desenhar, pintar, escrever. Os trabalhinhos, faz com muita rapidez, rabiscando de qualquer maneira só pra terminar logo. Interessa-se muito mais por brincadeiras de montar, construir, empilhar, organizar, ordenar objetos, classificando-os de vários modos, por cores, formatos ou tamanhos. E inventa. Transforma em brinquedo qualquer objeto, como: cinto, cabide, toalha, livro, caixa de papelão... Recicla tudo: garrafa pet, tampinhas, rolo de papel laminado, ripas de madeira ou galhos de árvore, copos de Guaravita... Temos de ficar atentos para que ele não exagere e se transforme em um verdadeiro lixeiro! Caio tem boa memória e decora com facilidade filmes inteiros, músicas, cada partezinha das histórias lidas para ele. A frase que não sai de sua boca é "Coitada da Hortência, que precisa fazer uma tal coisa com muita, mas muita urgência", em http://caio-meufilholindo.blogspot.com.br/2012/07/cade-o-meu-penico.html . Depois disso tudo percebi que ele se concentra sim, mas seletivamente, senão como conseguiria reter as informações?

            Caio agora se interessa intensamente por placas. 
           De todos os tipos. Com linguagem verbal, não verbal ou mista. Começou com a de quebra-molas (http://caio-meufilholindo.blogspot.com.br/2012/08/quebra-molas.html), placas apenas compostas por desenhos ou símbolos. No condomínio conhece todas. É atento também ao trânsito e nenhuma placa escapa, e é difícil lhe explicar enquanto estou dirigindo placas como o "triângulo" (dê a preferência) e outras que às vezes nem vejo. Em relação a todas ele pergunta o que está escrito. E pergunta mil vezes o que está escrito na mesma placa pela qual passa todos os dias. Ele sabe o que está escrito. Mesmo assim pergunta. E se, para brincar ou testar, lê-se algo diferente, ele corrige:
          - Não, mãe, esqueceu? Tá escrito "É proibido cachorro solto"!

          Na escola há a seguinte placa na porta da secretaria:
          Toda hora Caio vai à secretaria para perguntar o que está escrito nela. Em casa, faz as suas próprias placas e pede para colar com durex pela casa toda (ainda bem que aqui em casa ninguém fuma! rsrs). Ele, então, já percebeu qual "parte" da placa informa que "é proibido". 
          Através das letras dessa placa, ele procura e digita as letras no teclado e fica contente de vê-las na tela. Aí vou montando outras palavras junto com as letras de seu nome e ele vai reconhecendo/decorando/lendo: é o início do seu processo de letramento.

          Ano que vem, Caio vai para o 1º ano, pois completará 6 anos em março. Estou muito assustada, pois não tenho ideia se ele vai aceitar ou não uma postura, digamos, mais de aluno, já que hoje a postura dele é só de ser criança. E das mais agitadas... Se ele continuar como é hoje, teremos (eu e a professora dele) muito trabalho. Tia Marlen que o diga!

(Hoje compartilhei algumas particularidades do meu filho e também meus receios. Não tem sido fácil ser mãe do Caio! Blog também serve para isso, né?)

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