quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Tirei MB!!!

      Deu um trabalhão, mas a-do-rei fazer a maquete de uma sala de aula, trabalho pedido pela professora do Caio.

      Ahhhhhhhhhh é... confessei!

      Como professora, sempre valorizei o trabalho feito pelo próprio aluno, do jeito que ele soubesse fazer, expressando suas ideias, mesmo que simplórias, em detrimento daquele maravilhoso trabalho sem nenhum errinho, compilando trechos inteiros de opiniões alheias.

      Então me peguei imaginando como ia fazer Caio fazer uma maquete? Difícil... muito difícil... A primeira dificuldade que visualizei naquele momento foi o modo desengonçado com que Caio maneja  a tesoura.

      Houve um instante - instantezinho - que achei a ideia da professora meio sem propósito.

      Mas me obrigou a pensar... e a começar de alguma forma.

      Então, chamei Caio pra fazermos a maquete com todo o material de que eu dispunha e imaginava poder utilizar em cima da mesa. Caixa de sapato surrupiada do armário em primeiro plano. Caio estava motivado. Pensei: "isso não vai dar certo".

      Caio tomou a iniciativa então. Pegou o papel azul e mostrou:
      - É fácil, mãe, é só fazer igual.


      - Ah, tá. - balbuciei.
      Ele começou a mostrar:
      - Aqui é a porta, a janela, tem um armário, a mesa da professora fica aqui. 
      - E o que é isso?
      - É o computador.

      "F_ _ _ _", pensei de um jeito inenarrável.

      E aí Caio começou a mostrar onde se sentava cada coleguinha. Ele foi falando e anotando. Contando detalhes da rotina da sala. Eu olhando. Daí as ideias começaram a surgir. Pedi, então, que Caio desenhasse cada coleguinha. Para que todos os desenhos saíssem mais ou menos do mesmo tamanho, delimitei o espaço, dobrando várias vezes uma folha de papel ofício e riscando as marcas feitas pelas dobraduras. Quantos retangulinhos daqueles tivemos de usar! Foi um tal de braços saindo (ainda) diretamente das pernas... E os vestidos não ficavam como ele queria! Foi bem legal vê-lo desenhando os colegas: Pedro Machion e tia Paula ganharam óculos; o Davi ele fez com cara de bolado; as marias-chiquinhas das meninas esvoaçavam pelo espaço em branco do papel; e por aí foi...

      Nesse momento, a providência divina fez com que Antonio chegasse todo animadinho. Foi bom, pois a dinâmica estrutural dos móveis foi bolada por ele. Caio saía para brincar, voltava, inspecionava, saía, voltava, opinava:
      - Não se esquece da lixeira.
      Pois é... digamos: éramos os operários e ele, o arquiteto (ele fez a planta, né...)

      Bem, a maquete ficou pronta no dia seguinte, na quinta-feira, não antes de ouvir a recomendação de Caio quando saía para a escola:
- Mãe, não esquece da minha maquete, heim! - estava ansioso, provavelmente repetindo as recomendações da professora.



      Mas ansiosa mesmo fiquei eu.

      Chegou o dia D, quer dizer, o dia da entrega. Caio levou nos braços a caixinha com toda a minha expectativa dentro.O dia passou lento. Mais tarde, assim que Caio adentrou a casa (mas depois da costumeira sessão de abraços e beijos saudosos de um dia inteirinho longe um do outro), metralhei as perguntas:
      - E aí? A professora gostou da maquete? - e me controlando - E os coleguinhas, também entregaram? Ficou legal? Qual foi a maquete mais bonita?

      E Caio, que sempre me dá lições de viver, conviver e às vezes até mesmo de sobreviver, numa alegria pungente. declara:
      - Todos ganhamos MB!!!

      Claro, né... Que boba que sou... Olha os objetivos pedagógicos, não vamos esquecer... engoli meu enrubescer.

     Então pude perceber que o objetivo devia ser mesmo esse: o de fazer a criança perceber o espaço físico da sala de aula, reconhecer dimensões, entender que tudo segue uma ordem, observar a dinâmica da sala de aula e de seus ocupantes. Reconhecer-se como elemento participativo de tal dinâmica. E isso ele fez, mesmo sem utilizar a tesoura...






Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei! É muito bom acompanhar o desenvolvimento de nossas crianças.Caio
então é espacial.Muitos beijinhos...
marlem