domingo, 22 de junho de 2014

Vovô jornaleiro

      Perto de completar 78 anos, o meu pai arrumou um emprego: jornaleiro.

      Francisco, mais conhecido como Chico, português flamenguista, teve uma loooonga vida profissional. Já fez de tudo e com certeza por isso não consegue deixar de ser ativo.

      Já foi bombeiro e também trabalhou em minas de carvão, ambos em Portugal. Aqui no Brasil já foi taxista, motorista de ônibus, já fez fretes com kombis, trabalhou com editoras. Ia a Minas Gerais comprar linguiças e queijos para revender, já foi dono de uma oficina mecânica e de um bar, entre muitas outras coisas. Nunca enriqueceu nem mesmo chegou a ter uma situação confortável.

      E assim fui crescendo, vendo meus pais sempre "correndo atrás" e se superando a cada dificuldade imposta pela vida. E foram tantas...

      Cabe dizer que concomitantemente ao trabalho de meu pai sempre esteve o da minha mãe. Por longos anos testemunhei minha jovem mãe, com seus trinta e poucos, quarenta anos debruçando-se em enormes panelas fazendo pensão, enquanto nós, ainda crianças, ajudávamos descascando legumes e entregando as marmitas.

      O bar foi um capítulo longo na vida da nossa família. Passei a adolescência fritando pastéis aos domingos pela manhã, cobrindo a folga da cozinheira. E o bar foi praticamente o determinante na vida do meu irmão, para o bem e para o mal. Até que um assalto com sérias consequências puseram um fim neste capítulo. O jeito foi mudar pra outra coisa, mais doméstica, embora ainda sob a ótica do comerciante que meu pai é.

      Eu já adulta, assisti a meu pai montando uma mercearia, que depois se transformou em depósito de material de construção no terreno de trás da casa. Por último, com a venda do terreno que era da minha tia, testemunhei meu pai idealizando a venda de frangos assados na brasa. É o negócio da família no momento.

      Fabricou ele mesmo as churrasqueiras que, depois, com o crescimento do negócio, foram substituídas por uma de alvenaria, que - adivinhem? - ele mesmo construiu. Assim como construiu o "bar doméstico" onde antes era a garagem da casa deles e onde agora os frangos são assados e vendidos e , em noites de sexta-feira principalmente, os vizinhos-clientes saboreiam variados quitutes da mamãe.

      Mas, depois da última vez em que papai esteve internado por conta de seu já maculado coração, os negócios deixaram de estar sob sua responsabilidade, ficando ele numa situação de quase espectador.

      Sempre foi um homem admirável por sua força de vontade e disposição para trabalhar. Sendo assim, e voltando ao início do texto e retornando ao assunto da postagem, meu pai logo logo deu um jeito de se tornar, de novo, dono de suas ações e decisões. Pegou uma banca destruída, contratou com o dono, ajeitou-a, iniciou com a venda só de jornais e, agora, está crescendo e diversificando as publicações que vende. É o seu tino de comerciante que aflorou novamente. Acorda noite ainda para receber e arrumar os jornais, mas para o bem de sua saúde, só permanece com a banca aberta até o meio-dia.

     Ei, o blog é do Caio!
     Mas o vovô é parte importante da vida do Caio. E da minha também. Fica aqui como nossa homenagem a um homem que para mim é inspirador por sua capacidade de renascer.

      Caio sempre visita o vovô na banca, compra figurinhas e revistinhas, manhã cedinho, antes de ir para a escola. Abaixo, o registro de um desses momentos.


Um comentário:

Graça Antunes disse...

Lindo texto, sensível e verdadeiro! Papai adora a visita do Caio, depois passa a mariana e por ultimo passo eu, bom dia em dose tripla!